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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Neurônios, estresse pode mata-los

Que viver estressado favorece uma série de encrencas no corpo inteiro, de diabete a problemas cardiovasculares, passando por depressão e até mesmo infertilidade, já está mais do que comprovado. Agora, cientistas de dois importantes centros de pesquisa paulistanos, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), descobriram mais um efeito nocivo — para não dizer devastador — das reações orgânicas ao estado de tensão permanente: uma inflamação no cérebro. Mais precisamente no hipocampo, área da massa cinzenta associada à memória, e no córtex frontal, responsável pelos nossos raciocínios mais complexos. Isso pode, com o tempo, levar os neurônios à morte.

IMAGEMTXTOs danos causados pelo desaparecimento gradual dessas células nervosas vão de pequenos lapsos de memória até doenças degenerativas, como os males de Alzheimer e Parkinson. O estresse, claro, em princípio não existe para nos atacar — ao contrário, seria uma reação de defesa do organismo diante de um perigo iminente, despejando substâncias que preparam o corpo para fugir ou lutar. E nem precisa ser uma ameaça tão aterrorizante quanto a que enfrentava o homem primitivo diante de um animal selvagem. Pequenos sustos no dia-a-dia ou viver com a cabeça mergulhada em problemas podem disparar a mesma cascata hormonal. E, se isso se torna freqüente... A ameaça do estresse é tão séria que os pesquisadores alertam: tem mais chances de preservar seus neurônios quem consegue levar uma vida sem grandes sobressaltos. Até parece um contra-senso, mas o cortisol, hormônio que o corpo secreta em situações estressantes, é capaz de funcionar como um potente antiinflamatório. Em pequena quantidade, bem entendido. "Senão, o efeito é exatamente o oposto", ressalta o neurofarmacologista Cristoforo Scavone, chefe do estudo da USP. Em altas doses, esse hormônio aciona uma proteína chamada fator de transcrição kappa B no interior das células cerebrais. Essa substância, por sua vez, ativa três genes responsáveis pela produção de proteínas associadas à inflamação, que também podem leválas à morte por cansaço.


Quando as tensões acumuladas ultrapassam o limite do suportável, o corpo acusa o golpe, assim como a mente. "O medo e a ansiedade tiram de cena o pensamento lógico e podem levar o indivíduo a imaginar situações de pânico", lembra uma das
maiores especialistas brasileiras em estresse, a psicóloga Marilda Lipp, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, no interior paulista.

Infelizmente, hoje em dia nem mesmo quem mora longe das metrópoles está livre de fantasiar um assalto ao sair de um caixa eletrônico, por exemplo, desencadeando o chamado estresse por antecipação - uma forma, aliás, que acomete exclusivamente os pobres e estressados seres humanos. Os outros animais só sofrem diante de perigos reais, como fi car cara a cara com o predador. "É o preço que pagamos por sermos inteligentes", provoca a farmacologista Carolina Demarchi Munhoz, uma das autoras do estudo feito na USP, hoje atuando na Universidade Stanford, nos Estados Unidos. Se é assim, por triste ironia, é a inteligência que está destruindo os nossos neurônios. Melhor seria usá-la para tocar a vida de um jeito mais sábio — quer dizer, mais calmo

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